quinta-feira, 1 de maio de 2014

À Dora Leal


Adoro
Quem adora
A Dora.
Quando ela diz:
- Vambora
- Simbora
- Bora...
No sotaque que sua voz
Aflora
( Pois o sotaque
Já me determina
Agora ).
Parece canto de menina,
Choro que viola
Chora.
Voz de criança faminta:
- “ Sinhora...?”
Neste Mundo tão doente,
Violento e indecente,
Sinto ter que reclamar
Desta hora.
Sim, vamos revalorizar!
Reinventar a aurora.
Diga: - Voltemos à outrora!
Por isso, adoro
Quem adora
A Dora.




quarta-feira, 10 de abril de 2013


R E T O R N O




Volto ao Rio grande do Norte, como o filho que retorna,
                                                                           A casa materna.
Do exílio forçado foram-se os anéis, ficaram os dedos e as mãos
                                                                           Calosas.
Há cinqüenta anos atrás, seguia a pé com minha mãe, buscar
Alimento na casa dos Saraivas e dos Cabrais. Que se casaram com
                                                                           Os Botelhos.
Das Rocas, ao Grande Ponto, do Baldo ao alecrim, nada é como
                                                                           Antigamente.
Apenas a Igreja São Pedro está incólume com sua torre
 apontando o céu.
Meu Deus! A ribeira já não é a mesma. Se parece hoje comigo.
Vielas escuras, portas fechadas, ruas desertas.
Sem risos, falatórios, festas e flores, Sem Ferreira Itajubá fazendo
                                                        Versos e empinando papagaio.
Nem Zé areias aprontando as suas.
A Ribeira já não é a mesma com forrós e frevos e a dança-de-coco.
Foi exilada dentro de sua própria terra, parte de um corpo
                                                        Amputado.
Descriminada como eu, por falar macaxeira e ter a cabeça-chata.
Esquecida por não ter acompanhado o chamado progresso.
Ribeira dos mercadores, dos carnavais, de todos os poetas.
Vamos observar, serenamente, o painel de Dorian se desbotando
                                                        Na praça das Mães.
Sem sofrer, ou pensar que poderíamos ser diferentes, sem pensar
                                                        Na glória.
Deixa-me ficar contigo, até o silêncio chegar, e alguém contar
                                                        A tua  completa história.
                   



VIDA
  
Tenho estrelas nas mãos, raios, luares
Verde mar de tormentas, calmarias,
Noite belas de risos e folias,
Os saborosos frutos dos pomares

E tenho filigrana em meus teares
E uma mesa plena de iguarias,
Tenho em meus ouvidos sinfonias,
Gravadas, uma a uma em seus alares

Se hoje e sol, e escura a rua
Se meus pés calcam feios, frios, cardos
Se não houver a noite a linda lua

Tenho nas mãos estrelas, sol nascente
Tenho alfazema, luzes, tenho nardos
Que muito perfumaram, antigamente.



VERSO E INVERSO

A França faz a bomba de hidrogênio
E o câncer mata os homens seculares.
                            E afinal,
                            Por que evoluímos?
Por que a consciência busca o gênio,
E o homem vence planos estelares?

A fome mata...Biafrenses,
E a bonança os dias de Onassis.
                            E afinal?
                            Por que nós progredimos?
Se o êxodo fatal dos cearenses, daria termo um pequeno Oasis?

A chantagem prende os diplomatas,
E os grilhões os ideais sensatos.
                            E afinal?
                            Por que nos libertamos?
Por que nos rotulamos democratas,
E aplicamos rótulos abstratos?

O Sangue plástico cura a leucemia,
E o sangue puro é derramado em guerra.
                            E afinal
                            Por que nós nos amamos?
Se abrigamos no peito a hipocrisia.
E o ódio tem a amplidão da terra.
                            14/01/71



UMA ROSA NA CALÇADA




Há uma rosa nascendo entre pedras,
                                               Cimento e cal
Latente, debaixo de edifício, e praças,
                                               Muros  e gente.
Que desconhece o valor do seu perfume,
                                               Do tálamo e da cor…
Houve tempo em que os pássaros, os poetas, os namorados,
                                               Sonhava com esta rosa.
Bastava-lhe o simples rorejar do amor
                                               Para o cimo da perfeição.
Rosa clandestina de um mural sombrio
Diáfana em seu pobre florescer.


Há uma rosa nascendo no centro da cidade
No ritmo cadenciado dos motores dos carros
Nos corações eivados de paixões
Ângulo maior que São Gonçalo augura
Rosa campestre, sibilina, asfaltada
Quem me dera renascer!
                                               E criança brincar
                                               Com mãos verdas
                                               E dizer
                                               Poesia na calçada
Retirando uma pedra, retirando duas pedras
                                               E as rosas libertá-las
Rosa de Cal,
                   De pedra,
                                Do povo!
Afrontando os edifícios-gente que a esmaga
Agarrada ao pendão-maior agigantada em luzes
Sufocada na metrópole que hoje é São Gonçalo


26/08/75




Um  homem subiu ao palanque fez discurso e intitulou-se
                                                                                     Comunista.
Falou da fome, do baixo salário, da liberdade e do seu ódio ao
                                                                                     Capitalismo.
Mas, o que tem a ver a fome com o seu rótulo vestido?
A fome é da esquerda ou da direita ou, infelizmente, se chama
                                                                                     Fome?
E se alastra sobre os povos qual peste epidêmica, ignorando
                                                                                     O nome.
O país, a bandeira, o hino, a crença, ela será sempre o algoz
Um rio que seca, por não cuidarmos de sua nascente à foz.
Esta questão pertence ao Homem, não do ista ou do ismo,
Que afasta o problema com o seu ódio e com o sofismo.



T R I L O G I A

Pés descalços
Pernas acinzentadas
Olhar espantado
A negra vê
O filho brincar
Com carrinho de mão


Pôr sobre a cabeça
Infinito azulado
O satélite americano
Brinca de espião.


God save américa forever
Com todas suas bandeiras
Para sempre américa



Faz tempo que o sol
Aqui não nascia;
Nem gosto do verde
Sentir não podia


Nem poucos sorrisos
Amantes olhares
Nem lábios roçando
A leves sonhares


Faz tempo que o verso
Aqui não havia
Nem planos que nova
Manhã irradia.


Nem mesmo lembranças
Soprando o telheiro
Despertando a alma,
Ninar derradeiro


Nem mãos aos afagos
Aqui não havia
Faz tempo que a vida
Aqui não vivia.




As rosas não mudam
Do homem o destino
Nem banho de rio
Ou luar de prata
Nem flores silvestres
Ou nuvens de nata
Não mudam do homem
Seu pouco destino


O que deves fazer
C'oa saliva amarga
No canto da boca
A dor no teu peito,
Silencio de espanto
Transbordando a alma?


As rosas não mudam
Do homem o destino
Nem banho de rio
Ou flores silvestres
E grande a floresta,
Medita, menino.




SOSSEGA CORAÇÃO


Sossega coração, sossega, embora
Sei de quantos tormentos atravessas
Dos caminhos tortuosos que engressas
Sossega coração, já, sem demora

Sossega coração, do amor agora
Não se pode fazer quaisquer promessas
Perdeu-se o tempo de sonhar c'oa aurora
Atravessa esta ponte, e atravessa

Descansa desta longa caminhada
Refaz-te desta imensa cicatriz
Depõe ao chão a tua pobre cruz

Relembra a antiga e límpida alvorada
Descansa, procurando ser feliz
Sossega coração, e busca a luz




SONETO Nº 5


Eu reconheço o amor pelo olfato
Pelo sabor de sua ambrosia
Pelo gosto de alecrim, pelo tato,
A embriagues de sua fantasia.

Eu reconheço o amor pela alegria
Do prazer ao mínimo contato
Por todo o aconchego, pelo ornato
A luz que o aquece e o alumia

Tão novo quanto a própria alvorada
Tão denso quanto a própria atmosfera
Tão leve quanto o pássaro errante

Tu és este amor em debandada
Este fluxo e refluxo, incessante
Desde que chegastes, primavera 



SEDE


Sede
De azul
De espaço
De sonhos
Realizáveis...

Sede
De luz
De calor
De reformas
Palpáveis...

Sede
De fé
De razão
De atitude
De compreensão...

Sede
De cor
De festa
De beleza...

Sede
Dolorosa...
...sede
De outro
Coração...





O BELO ADORMECIDO 

Era uma vez... e tanto tempo faz...
Um príncipe feliz em seu reinado,
Entre pardais e flores, perfumado,
Vivia nos seus sonhos colossais.

Era uma vez… palácio de cristais
E templos e corcéis, lindo brocado,
Tinir de taças, alto cortinado,
Colunatas em grandes catedrais.

Era tarde de luz, cristalizada,
E vestida em cantatas e florais
A camponesa se dizia a amada.

E o príncipe, em repouso numa alfombra,
Teve a roçar-lhe os lábios sua sombra
E ao mundo seu não despertou, jamais.





No meio da terra

Existe algum fosso


Em meio ao deserto
Existe algum poço


No meio da noite
Uma réstia de luz


Em meio ao calvário
Existe uma cruz


Em meio a descrença
Existe algum crente


No meio da rua
Algum pingo de gente.


12/02/81



ESTRELA RADIANTE

No céu uma estrela
Mais nova irradia.

E quem puder vê la
Jamais na agonia

Irá esquecê-la
Será sua guia

Tão pura e tão bela
Derrama alegria

Por sobre a mazela
Tem luz que alumia

A tua janela
Tão grande vigia.

Estranha viela
De grande valia

Estrela, aquela,
Desperta, vigia
Em tua janela

No céu uma estrela
Mais nova irradia.

segunda-feira, 25 de março de 2013


PASSAGEM DAS HORAS

Inconformado;
Entre o fumo e a fumaça
Entre o porto e a jangada
Entre o vento e a rosa
De pé
Entre a poeira e a estrada
Entre o pecado e a purificação
Entre a sombra e a luz.
Assisto
Entre o mar e os abrolhos
Entre o sonho e a realidade
Entre Deus e a prece
A inevitável,
Passagem das horas

14/06/1973


PARA ESPANTAR TRISTEZA


Ninguém que assumir o compromisso do
Enlaçar as mãos
Ninguém quer assumir o compromisso do
Repartir  peixe e  pão.
La fora um galo canta, um canto triste de cantar
Sozinho,
E o homem passa um passo pouco de passar
Mesquinho.
Deuses distantes desta terra d' homens
Descompromissados.


Não falem coisas que a tristeza tece
Prece
Messe
Não falem coisas que não tem apreço
Preço
Tropeço
Não falem coisas que o sangue arroja
Soja
Camboja
Não falem coisas que não tem valor
Dor
Amor
Não falem coisas que da nos piedade
Orfandade
Liberdade


Não teçam tristezas, não falem de guerras
Eras
Feras
Não falem de coisas que a morte consome
Nome
Fome

Falemos de coisas
Que nós já não temos
Que nós já perdemos
Tentando mudar.
Luares, falenas,
Fandangos, avenas,
Canções de ninar.
Das noites de prata


Das nuvens de nata
Do cheiro gostoso
Tão simples, mimoso,
Que tem o alecrim.

Cadeiras, calcadas,
Meninas rendadas,
Rapaz de carpim.
Da água de bilha
Da benção da filha
Que nós já esquecemos
De abençoar.
Podemos falar,
Violas
Zabumbas
Marimbas
Pandeiros

Congadas
Cheganças
Reisados
Podemos cantar
"O lá da proa
O lá da proooa"
Não falem coisas que a tristeza tece
Que nós entristece
Que não tem apreço
Que o sangue arroja
Que dá-nos piedade
Que a morte consome
Preço
Camboja
Liberdade
Fome

Não falem coisas que já não tem valor
O amor

OS HERDEIROS

                                                                   A JOÁO CABRAL DE MELO NETO



Herdamos o móvel o imóvel o teto o chão,
A ética, a pena, a fantasia, a comiseração
A marmita requentada, os mesmos tratos,
A cultura elitista, o álbum de retratos,
Herdamos os arquivos e as mazelas,
A passividade de estar sempre as janelas.

Herdamos o espírito confuso, a alma ansiosa,
A foice, o campo, o sangue, a viola, e a prosa.
Herdamos o luto, o leite, o agravante, a fuligem,
A inércia, o verso,  o agravante, a origem,
Da miséria, o beco, a lama, a ma conduta,
O chapéu de palha que não se sepulta.

Herdamos o luxo, cadeiras estofadas,
O castelo de ficção, as leis das calçadas,
O senso capitalista, ou o que seja desforme,
A febre do poder, a fama, a vontade enorme,
De comer c’oa burguesia no mesmo prato,
A roupa, o jeito, o gesto, o ridículo sapato.

Herdamos o dia, a noite, a vida e a morte,
As pedras do caminho, a falta de sorte,
A rede, a preguiça, os santos, a romaria,
A pouca fé, a aguardente, o amor de Maria,
Herdamos a moral, o lixo,  a casa de barro,
A profissão a maneira de pegar no cigarro.

Bem aventurado Deus que não teve este destino
De na vida se chamar – O homem o Severino.


O POETA



Quero ver quem  sequestra a luz da lua
E atira um soneto, enluarado.
Quero ver quem ajuda o desgraçado
E agasalhe a infância nua

Quero ver quem assalta ou atenua
O sofrer, de um destino malfadado,
Quem respeite a velhice e o encantado
Direito de quem anda pela rua.

A vida é mais que violência e dor.
E o verde, a fonte, a montanha bela,
A flor com sua forma, aroma, matiz.

O que faltou para o homem ser feliz?
Quero ver quem rouba a luz da estrela
E projeta um futuro com amor.


O NEGRO E O MUNDO

O negro menino
Sonha no mundo
Brinca com a fome
Zomba da dor.
O negro sorrindo
Das dores sorrindo
Da fome sorrindo
Sorrindo do amor

O negro crescendo
A terra o envolvendo
Lutando o guerreiro
Reclama feroz.
-o mundo é meu mundo
A dor é só minha
Se choro a daninha
Abafam-me a voz

O negro vagando
Sem fé caminhando
Talvez procurando
O que não perdeu.
A benção divina?
O Deus que o ilumina?
Responde um errante
Também feneceu.
Ò negro teu mundo
É meu mundo escasso
Vazio no espaço
Sem dono sem rei.

Se a dor tudo isola
Prá que a esmola?
Prá que o teu grito?
Tu és o infinito
Tu és eu falei..

O negro cansado
Diz amargurado
O mundo é negro
Mais negro que eu.
Repete o errante
O mundo vibrante
Intenso falante
É negro tão negro
Ou mais negro que o teu.

Se alguém no infinito
Ouvisse esse pranto
Diria – esses cantos
Formou um coral

Meu negro meu mundo
Imenso profundo
Tens por oriundo
O negro universal...


 O Cego e o cão

O cego entrou no boteco com seu velho
                                                                                     Cão-vigia
Sentou-se na cadeira de sempre, deu três pancadas no chão
Com o antigo cajado,
Fingiu que olhava para o balcão, repetiu a frase de todos
                                                                                     Os dias
“Minha pinga, Sebastião. Minha pinga.”
O cão deitou-se como de costume fazendo um ângulo reto
A cabeça nos pés do cego, o corpo estendido ao mundo.
De repente o cão deu dois longos suspiros,
Possivelmente, um em louvor a vida, outro a morte.
E parou de respirar.
“Outra pinga Sebastião. Outra pinga.”
E cuspiu no cimento crespo, sem direção.
Ficou silencioso como se fora mudo
Pálido, como se não andasse sob o sol
Imóvel como se o sangue não corresse nas grandes veias.
Deu um longo suspiro como quem envelhece mais um dia
Levantou-se, desfez o ângulo reto, e deixou uma linha
Grossa e escura, no cimento poroso da vida.
E saiu da boteco, tateando com  o seu cajado no chão.
Tolo como quem pensa.
Perdido como quem enxerga.

                                                               

MENSAGEM


Meu céu
Esta tão turvo
Que não posso
Divisar
O esplendor
Das estrelas
Boiando
No infinito.

Sei que
Elas existem
Pois, sinto
Suas mornas
Luzes
Me afagarem
Como uma
Mensagem
De consolo
E esperança.


MARIA


Maria me espera
C'oa cara de lua
Com os pés nas estrelas
Com ânsia de amar 

Maria me espera
Com os olhos na rua
Cabelos de ondas
Mais belos que o mar 

Maria me espera
Com pratos na mesa
Lençol prateados
Assim toda nua 

Maria me espera
Com flores nos seios
Que vou te buscar.



LOJA DE BRINQUEDOS


Taí a loja de brinquedo
A boneca que chora,
O soldado de chumbo
O cachorro de pelúcia
A roda gigante
Para a dimensão dos brinquedos.
O homem de borracha
A boneca de celulóide
Vestida de noiva.
O macaco tocando tambor.
Tai a loja de brinquedos
Que Ele fez para se divertir.
A confusão dos sentimentos
Estampados em cada brinquedo.
O riso enigmático do palhaço
Tai o espantalho fincado
No meio do mundo
Recusando-se a brincar.



Dizem que o amor é ouro porque brilha
É fogo a arder. É luz incandescente.
Das estradas da vida, única trilha,
Cristal precioso mui (brilhantemente)

Dizem que o amor é a única cartilha
A quem deve ensinar o ser vivente.
Crista dorsal, o leme, uma quilha,
Conduzindo em altos mares o amante.

Dizem que o amor é a estrela vespertina
Que consola, liberta e ilumina,
É vertigem, é loucura e entrega.

Digo que o amor isola porque – ilha
Dizem que o amor é ouro porque brilha,
Digo que o amor é ouro porque cega.  

domingo, 24 de março de 2013


Letre a mon fils

És o retrato do que fui, de uma grande parcela da criança brasileira.
Sofridos,ultrajados, pelos pais-padrastos, que biológicamente nos fizeram,
                                                                                  E nos desconheceram.
Sem qualquer amor, somos o resultado de suas frustrações, dos conflitos
                                                                                  De suas vidas.
A negação dos seus sentimentos, a vingança do que eles, possivelmente
                                                                                  Também não tiveram.
Formando a cadeia do sofrer, da ignorância cega. O resultado do sexo
                                                                                  Sem o amor.
És o produto do que tinha tudo para dar errado, E que deu certo,
                                                                                  Pela sensibilidade,
Para provar que o imprevisível acontece quando se quer, quando se nasce
 Para crescer.

                        Como as favelas
                        A batata florescendo na Terra
                        As bananeiras.

Isto nos fez maiores, porque nascemos fecundados de nos mesmos.
Isto nos fez poetas, porque antecipadamente, conhecemos a dor nos
                                                                                  Dias verdes da existência,
Isto nos fez humanos, De longe conhecemos alguém com o estomago vazio
                                                                                  E a lágrima antecipada.

                        Embelezamos porque flor
                        Voamos porque cometas
                        Brilhamos porque estrelas.


                                   I I


És o retrato do que sou, olhar marejado de alegria e dor, distraído e
                                                                                  E sério pensador.
Quase  inútil,  como o pensar sério sobre a vida, a razão profunda sobre
                                                                                   Todas as coisas.
Quase inútil,  como o poema não lido, a música que não foi tocada, a tela
                                                                                  Em branco.
Que insiste em ser lida, musicada, e com formas e cores que tenham
                                                                                  Sentido.
E nada nos impele de seguir adiante, viver ou viver, não há escolha.
                                                                                  Seguir avante.
É a nossa proposta, o sangue nas veias, um sonho na mente,
                                                                                  Coração pulsante.
Já que somos frutos da ignorância, de uma consciência vazia,
                                                                                  Canalha.
Temos que aprender a caminhar e ser feliz, no fio perigoso,
                                                                                   Da navalha.

                                   Bebendo o mel das flores
                                   Observando os poentes
                                   Dançando com os amores.


                                               I I I


Encara a dor de frente, pálido, sereno, com calma.
Não deixe que te agridam demais, guarda tua alma
                                                                       Para o que realmente importa.
Um olhar brilhante, um sorriso sincero, um leve beijo nos lábios,
                                                                       À quem bater em tua porta.
Não tenha pátria, que a arte seja a  tua nacionalidade, teu documento.
                                                                       Passaporte.
O teu motivo de vida, o verdadeiro Caminho, teu prumo
                                                                       E norte.
O mundo é de todos, o mundo é um só, mesmo assim nos sentimos
                                                                       Estrangeiros.
E na realidade somos, nuvem que passa, chuva que deságua, apenas
                                                                       Passageiros.
Sem perguntar porque vamos, para onde, que nave é esta, aquela?
Observa apaixonado este vôo, sem sofrer,  como se estivesses em
                                                                       Uma janela.


                                   O passar das horas
                                   A criação das coisas
                                   Observa Deus.

                                               IV



Tenhas sempre às mãos uma flor para ofertar e uma espada
                                                                       Para se defender.
Não negocies tua consciência, não exite felicidade se não fores sincero
                                                                       Contigo mesmo.
Não penses demais a ponto de não seres feliz, nem pense de menos a ponto
                                                                       De te prejudicares.
Ame demais a ponto de seres feliz ou infeliz, até que a chama se apague
                                                                       E voltes a lucidez.
O estar só ajuda a  enxergar a nós mesmos.
O estar só ajuda a sermos fortes, sem fazer da solidão uma doença,
Ou um refúgio para não sofrermos. Ser natural é o óbvio para
                                                                       Crescermos.
Até o cacto do deserto, espinhoso e áspero, é verde e contém
                                                                       Beleza.

                                   Macambira
                                   coqueiros
                                   Xanana flor
                                              
                                               v

Nunca estarei longe de vocês, nem na alegria e principalmente,
                                                                       No sofrer.
Se sou feliz, devo a vocês esta alegria, esta vontade de viver.
Este desejo de caminhar juntos, este consolo de ver nossos cabelos
                                                                       Brancos.
Esta preocupação de vê-los com saúde e felizes, dormindo no silêncio
                                                                       Dos nossos abraços.
Na lembrança dos rostos juvenis, que agora amadurecem no sono
                                                                       Dos justos.
Nada foi mais importante para mim, do que vê-los unidos e felizes.
Nada foi mais importante do que vê-los sem a corrente que traz
                                                                       A necessidade.
Nada foi mais importante para mim do que o carinho que vocês
                                                                       Dedicaram-me.

                                   Verde caminho
                                   Branco sorriso
                                   Brilhante alvorada

                                               VI

Guarda o  amor que te dou, cheio de brio,
Que orgulhoso contigo frente a frente,
Serei o teu escudo e o teu refúgio,
Nos teus dias de fé, dias descrentes.

Guarda o amor que te dou,  amor crescente,
Para sempre será  o teu refúgio,
Ele fará de ti,  homem valente,
E será o teu conforto e relicário.

Não temerás tempos de pouca sorte,
Sabes que por mim foste adorado.
E nem lamentarás a própria morte.

O que importa na vida é estar em paz,
Sorrir, sem renegar o teu passado,
O homem vale pelo que ele faz.