domingo, 24 de março de 2013


A NAVE DA EDUCAÇÃO

Everaldo Botelho Bezerra

A Educação é uma nave célere, desgovernada, sem ter um
ponto de partida ou de chegada, prestes a se  estilhaçar.
Aos professores

Estamos em pleno ar, doidas no espaço
Brincam no ar as naves, borboletas,
As madressilvas, os lilases, crescem
Entre o fumo e o pó, as violetas.

Estamos em pleno ar, a luta eterna
Entre o bem e o mal, inda é contínua,
A natureza chora os seus reveses,
Na gota do orvalho, cristalina.

Mas o que vejo nesta nave célere
A porta do século que finda?
Ainda os negros recebendo açoites,
Dores e preconceitos, ainda?

Ontem os coronéis, chibata, couro,
Hoje o Estado. Colarinho d` ouro
E os pulhas a escravizar.
Legiões de crianças, no carvão imundo,
Dormindo em jornais, como os calungos,
Forçados a trabalhar.

Pelas ruas e praças, pelos bares
Trafegam sujas a fugir dos lares
Das escolas a se evadir
E a roubar e matar sem esperança
(Sonhos que lhe roubaram da infância)
E choram sem porvir.

Cheirando cola no porão profundo,
Comendo o lixo atômico do mundo,
E o empresário a gargalhar.
Que nas vagas do luxo, mais dinheiro
Na sombra, no desfalque por inteiro
Juntar, guardar, juntar.

Senhor Deus dos ultrajados,
Dos pobres e dos humilhados,
Até quando esta cruz?
Tu que mudas o inverno e a primavera
Dá-nos força pra criar uma nova era,
Dá-nos uma réstia de Luz.


Oh! nuvens de brancas espumas
Por que não escondes nas brumas
Um século de escravidão?
E abre as portas ao milênio novo
Possibilitando a todo um povo
Um lar e a educação.

A Europa - Mulher de pele clara,
Seios nus a exibir a jóia rara,
Hugo, Zola, Rodin.
Vai cavalgando em corcéis dourados
Em sua trilha seguem, perfumados,
Verlaine, Wilde, Rembrandt.

Mas eu, Senhor, que venho do deserto,
Onde miséria e morte rondam perto
Nordeste , Etiópia - a esmolar.
Reclamo esta grande iniqüidade
E aos céus peço justiça, igualdade,
Comer, vestir, um lar.

Colibri que revoa no outeiro
Bebe o mel que sustenta os teus ais.
Voa livre - o belga canário
Entoando os seus madrigais.

Estamos em pleno ar, o firmamento
Tem a cor do chumbo, virulento,
Fábrica, queimada a crepitar.

Onde a flor de um jardim espia o astro
Brota da pétala, gota de alabastro,
Querendo respirar.

Castro- vem rever este caminho!
Já não é só o negro, o pelourinho
Com chibatas a trabalhar.
Professores em ônibus apinhados,
Com salários de fome, imprensados,
Sonhando educar.

Andando mudos, tendo o sol a pino
Nas boléias, nas canoas - o peregrino
A suar...a suar..    


Pôr que segues veloz. Oh! Nave errante?
Espera um pouco - o poeta.
Não leveis a turba destroçada
Bater as portas do futuro, inquieta.
Homens do campo, rotos lavradores,
Que nas mãos trazem o mapa dos horrores,
Na face a palidez.
Velhas mulheres percorrendo a estrada
Enroladas em bandeiras- como Andrada.
Fogem da sordidez.

Senhor Deus dos ultrajados,
Dos pobres e dos humilhados,
Até quando esta cruz.?
Tu que mudas o inverno e a primavera
Dá-nos força pra criar uma nova era
Dá-nos uma réstia de luz.

Anda a lua no infinito prateado
Que destino reservam-lhe os céus?
Voa, Voa . Oh! nave errante,
Implorando as bênçãos de Deus.

Euclides- Dá-me a fé inquebrantável,
Um livro e um pedaço de giz.
Cruz de Prata que no céu vagueia
Brilhai neste País.

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